ao longo de várias semanas, trabalharemos em várias línguas e a partir de diferentes traduções do Sonho de uma noite de verão de William Shakespeare, um terreno propício à invenção
Fazer teatro é tomar partido. Intervir. Ser ator, atriz. É ter afeto pelo movimento puro, pela complexidade desnecessária, pela irregularidade, pela leveza e pelas peculiaridades da linguagem. É também o prazer de transitar nos limites das nossas próprias crenças, para evitar acumular preconceitos ou dados cultos – os do mestre, justamente.
O trabalho do ator está em perpétuo movimento, e os autores e autoras de hoje obrigam-nos a inventar novas formas de interpretação que põem em causa os códigos dramatúrgicos e os modos de representação.
A École de Maîtres é um espaço de investigação precioso. Ao longo de várias semanas, trabalharemos em várias línguas e a partir de diferentes traduções do Sonho de uma noite de verão de William Shakespeare, um terreno propício à invenção. Durante séculos, o teatro de Shakespeare tem interrogado a realidade de forma imediata, porque articula como nenhum outro o íntimo e o político. No Sonho, a coabitação entre a noite, espaço de fantasia e desordem, e o dia, espaço de realidade e ordem, ligam-se a uma incrível série de gravuras de Francisco Goya que me persegue desde a infância: Os Disparates.
Concebida a seguir a Os Desastres da Guerra, e fazendo parte da série dos Caprichos, esta obra reúne as temáticas caras ao pintor espanhol: a sátira contra a Igreja Católica, a denúncia da guerra, a crítica a uma sociedade conservadora e moralista – como a de Inglaterra dois séculos antes.
Disparate: “Aquilo que produz um efeito discordante pelos vários elementos que o compõem.” Antigamente, esta palavra era feminina em francês. Atualmente, o uso varia quanto ao género. A partir desta série de gravuras, iremos compor uma novela em ligação com as personagens e as situações da peça, procurando uma verdadeira poética da complexidade, de forma a escapar às vias paralelas e tradicionalmente rígidas: a semelhança com a realidade (realismo) oposta à construção de uma nova realidade paralela (o absurdo). Marianne Ségol-Samoy, tradutora e dramaturga, acompanhará os trabalhos através de várias versões do texto, começando pela novíssima tradução francesa do poeta Olivier Cadiot e pelo original inglês.
A École des Maîtres — a edição de 2023 é dirigida pelo ator e encenador franco-argentino Marcial Di Fonzo Bo. Em colaboração com a dramaturga e tradutora Marianne Ségol-Samoy — é um projeto de formação avançada criado por Franco Quadri em 1990 e completa este ano a sua 31a edição. Trata-se de um curso internacional itinerante de aperfeiçoamento teatral, aberto a artistas europeus com idades entre os 24 e os 35 anos. O curso tem o apoio de quatro países europeus — Itália, Bélgica, França e Portugal — e tem como objetivo relacionar jovens atores, oriundos de escolas de teatro europeias e com experiência profissional, com encenadores de renome internacional. Juntos, participam numa experiência baseada no encontro e no intercâmbio de conhecimentos, de metodologias e de práticas artísticas, partindo de textos, línguas e linguagens teatrais distintas durante os ateliers itinerantes.
Data
30, Setembro 2023
Horário
18H00
Duração
1h30 (a confirmar)
Faixa etária
a classificar
Preço
entrada gratuita (lotação limitada)
Local Jardim da Sereia
A partir de diferentes traduções Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare e das gravuras de Francisco Goya, Os Disparates
Tradução Olivier Cadiot
Direção Marcial Di Fonzo Bo
Assistente de direção Marianne Ségol
Interpretação Adil Mekki, Alexis Gilot, Carolina Lopes, Emma Bolcato, Elena Natucci, Fanny Blondeau, Giuseppe Benvegna, Hélène Bressiant, Julien Crampon, Jules Puibaraud, Mariana Magalhães, Michele de Paola, Pedro Baptista, Rui Maria Pêgo, Simon Espalieu, Souâd Toughraï
Parceiros do projeto e direção artística CSS Teatro stabile di innovazione del Friuli Venezia Giulia, Piccolo Teatro di Milano – Teatro d’Europa (Italia), CREPA – Centre de Recherche et d’Expérimentation en Pédagogie Artistique (CFWB/Bélgica), Teatro Nacional D. Maria II, TAGV – Teatro Académico de Gil Vicente (Portugal), La Comédie de Reims – Centre Dramatique National, Comédie de Caen – Centre Dramatique National de Normandie (França)
Com o apoio MiC – Direzione Generale Spettacolo, Regione Autonoma Friuli Venezia Giulia – Direzione centrale cultura, sport e solidarietà, Fondazione Friuli (Itália)
Com a participação ERPAC – Ente Regionale Patrimonio Culturale Friuli Venezia Giulia (Itália); Théâtre de Liège – Centre européen de création théâtrale et chorégraphique, Centre des Arts scéniques, Ministère de la Communauté française – Service général des Arts de la scène, Wallonie-Bruxelles Internacional (CFWB/Bélgica); La Loterie Nationale (CFWB/Belgique); Ministère de la Culture et de la Communication (França); Universidade de Coimbra (Portugal)
Estágio e apresentações Caen 28 agosto, Liège 9 a 12 setembro, Milão 13 a 16 setembro, Udine 17 a 26 setembro, Coimbra 27 setembro a 1 outubro, Lisboa 2 a 4 outubro, Reims 5 a 7 outubro
Fotografia Pauline DEBOFFLES — Le Quai CDN