Um retrato delicado de uma história de amor pouco convencional. Enquadrado pela sublime paleta de cores e pelos íntimos “slow-motions” de Wong Kar Wai, o filme viaja através dos olhares enigmáticos de dois indivíduos que, depois de se mudarem para o mesmo prédio com os seus parceiros ausentes, começam a acreditar que os seus respetivos esposos estão a ter um caso. Na sua solidão e aborrecimento, Chow e Su tornam-se mais próximos à medida que fazem as pazes com os seus fracassos românticos. 

Disponível para Amar é uma história de amor entre vizinhos que se descobrem traídos, de imediato elevado à categoria de obra-prima, e que não perdeu (antes pelo contrário) um milímetro do seu brilho com o passar dos anos. Um estudo profundo sobre o acaso, o vazio e a solidão, acompanhado pela melancólica banda sonora de Shigeru Umebayashi, é o trabalho mais emblemático e impressionante de Wong Kar Wai.

Entre o desejo e o “coração partido”, não esquecemos as personagens de Wong Kar Wai, pessoas comuns “à beira do amor ou da perfeita solidão” [Manuel Gusmão], que nos hipnotizam na “prodigiosa elegância em que se movem” em filmes que nos prendem pelo encantamento. Os segredos e os sonhos, as cores, a música, uma câmara também “corpo”, os “mise en abîme” e a extraordinária utilização do “slow motion” como resposta à velocidade e ao esquecimento, criam ambientes singulares que nos seduzem e emocionam, que nos arrebatam a alma.

O realizador deixa-se inspirar pela literatura (Murakami ou o latino-americano Manuel Puig – a narrativa fragmentada, os pontos de vista múltiplos), pela música de Nat King Cole, dos Turtles e outros, por filmes. Os encontros e desencontros amorosos, com os seus mistérios e contradições, o arrependimento pelos erros cometidos, uma solidão agridoce, as memórias que o amor deixa quando desaparece, a imaginação como motor do desejo, um erotismo que se torna ainda mais poderoso quando não se concretiza.