“Tenho a impressão de navegar num filme de Walt Disney, mas com Humphrey Bogart. Portanto, num filme político.”, diz em voz off uma detetive privada que procura vingar a morte do seu amante, numa cidade imaginária chamada Atlantic Cité. Última participação de Anna Karina num filme de Jean-Luc Godard, Made in USA é um filme “belo, pateta e explosivo”, como descreve Jonathan Rosenbaum, e uma declaração dos sentimentos contraditórios do realizador sobre a vida, cultura, política e estética americanos. Numa exploração desta relação de amor-ódio, Godard cria um filme noir composto de colagens quase surrealistas, vibrante de cores e influências da pop art, numa explosão exuberante que marcou o cinema nos anos 1960.

“Não faço grande diferença entre os filmes e a vida, diria até que os filmes me ajudam a viver.” — Jean-Luc Godard. Jean-Luc Godard (1930-2022) foi o cineasta cuja obra e pensamento mais influência tiveram (e continuam a ter) no cinema e noutros domínios artísticos contemporâneos. Abriu caminhos para o futuro do cinema, re-fez a visão da sua história, quebrou barreiras, revolucionou. Foi um artista total, livre, prolífico e agitador, lúdico e profundo. Genial. Morreu a 13 de setembro de 2022 (contava que Anne-Marie Miéville, a sua companheira, dizia que se ele morresse primeiro iria escrever no seu túmulo: “Pelo contrário…”), e deixou-nos um legado inigualável. A Leopardo Filmes lança um programa dos mais belos filmes de Godard, nosso contemporâneo. A sua obra continua fulgurantemente viva e vamos de novo vê-la! 11 vezes Godard: “C’est beau ça, hein!”