uma coleção de rituais fúnebres que nos possam confrontar com o vazio, com o medo, com a desumanização, mas principalmente uns com os outros
Morrer pelos Passarinhos baseia-se numa pesquisa sobre a criação artística que já não se revê no mundo em que vive. Henrique Furtado Vieira e Lígia Soares, juntam-se pela primeira vez numa co-criação para estudar, reproduzir, reinventar formas artísticas resultantes de sistemas em colapso e com isso criar uma coleção de performances baseada na relação histórica entre a crise e a emergência de diferentes vanguardas artísticas.
Vários movimentos da vanguarda artística surgiram após momentos traumáticos da história, momentos em que a humanidade mostrou novos alcances para a sua capacidade autodestrutiva – as Grandes Guerras que se sucederam ou a Guerra Fria com a sua ameaça atómica. Hoje, anos 20 do século. XXI, vivemos mais uma vez e desta feita, em continuidade, perante o “fim do mundo”. Perante a derrocada iminente que estratégias podemos usar para combater a “impotência da nossa vontade consciente”? Se no séc. XX, a apologia da informação, tão necessária como consequente ao possível progresso civilizacional, era ainda a máxima que poderia salvar-nos e ao mundo de atos violentos, hoje sabemos que a nossa agressão ao planeta que habitamos nos está já a ser fatal e, por alguma razão absolutamente extraordinária, vivemos com essa informação de uma forma consciente e passiva, perpetuando a nossa participação ativa na sua destruição.
Morrer Pelos Passarinhos visa encontrar formas de partilhar significativamente com o público o fim de um mundo conforme o fomos conhecendo e de lembrar a força de que em coletivo se pode expressar o “não sentido”, o ser humano dissecado pela desordem do mundo, expresso no seu luto, contrariando a naturalidade com que aceitamos a sua degeneração. Com este propósito pretendem também responder a uma premissa comum às diferentes vanguardas: a democratização da arte, de modo a que esta possa alargar o seu acesso e refletir aqueles que são muitas vezes esquecidos pelas elites, económicas e culturais. Uma coleção de rituais fúnebres que nos possam confrontar com o vazio, com o medo, com a desumanização, mas principalmente uns com os outros.
Morrer pelos Passarinhos assume uma forma de díptico, apresentando a sua 2ª parte no dia 22 de março às 18h30.
Lígia Soares coreógrafa e dramaturga portuguesa. Desde 1999, transita entre as disciplinas da dança, teatro e performance. O seu trabalho tem sido apresentado nacional e internacionalmente (Portugal, Brasil, Alemanha, França, Noruega, Holanda, Bélgica, Sérvia, Croácia, entre outros). Entre 2001 e 2014 foi diretora artística de Máquina Agradável. Desenvolveu também vários contextos de programação com outros artistas como o Demimonde, ou o Face a-Face. Na sequência de trabalhos como Romance (2015), O Ato da Primavera (2017), Turning Backs (2016), Jogo de Lençóis (2019) prossegue uma pesquisa em dispositivos cénicos inclusivos da presença do espectador como elemento constituinte da dramaturgia do espetáculo, incorporando ou substituindo o próprio papel de performer. É mentora em diversos programas de escrita para cena e colabora regularmente como dramaturga em projetos de dança e teatro. As peças Romance, Cinderela; Civilização; Memorial e A Minha Vitória Como Ginasta de Alta Competição estão editadas pela Douda Correria. Recebeu a bolsa de criação artística e literária da DGLAB em 2020.
Henrique Furtado atualmente bailarino, performer e coreógrafo, desenvolve a sua prática artística principalmente entre a criação coreográfica e a colaboração como intérprete com vários artistas tais como Bleuène Madelaine, Eric Languet, Aurélien Richard, Céline Cartillier, Tino Sehgal, Salomé Lamas, André Uerba, Sofia Dias & Vítor Roriz, Ana Renata Polónia, Vera Mantero, Boris Charmatz e Tania Soubry. Pontualmente dedica-se à investigação, à pedagogia e à escrita em relação com a dança, em diferentes contextos e através de múltiplas parcerias (O Rumo do Fumo, Unlock Dancing Plaza, Ballet Contemporâneo do Norte, Colectivo 84, Comédias do Minho…), e mais recentemente tem estado envolvido como dramaturgista nas coreografias de Nicolas Hubert (Compagnie Épiderme) e de Giulia Arduca (Compagnie Ke Kosa). Os seus trabalhos são frequentemente criados em sinergia com outros artistas como em Bibi Ha Bibi, com Aloun Marchal, em Stand still you ever-moving spheres of heaven, com Chiara Taviani, ou em Morrer pelos Passarinhos, com Lígia Soares. Nos seus espectáculos / performances destaca-se a sobreposição de estilos e de géneros, a presença vocal na dança e o(s) espaço(s) da imaginação. Tem colaborado e apresentado o seu trabalho em instituições como Aerowaves, CDC Toulouse, Festival de teatro e dança de Goteborg, Festival Roma Europa, rede europeia DNA, Teatro Municipal do Porto, Festival Temps d’Image, Espaço do Tempo, CCB, entre outros.
Data
21, Março 2024
Horário
18H30
Duração
1h00
Faixa etária
M16
Preço
€3
Local TAGV (lotação limitada)
Direção e criação Lígia Soares e Henrique Furtado
A partir de uma ideia original de Lígia Soares e Maria Jorge
Direção de Produção Ana Lobato
Direção técnica e desenho de luz Hugo Coelho
Composição musical e sonoplastia João Lucas
Produção Romance Associação Cultural
Coprodução Teatro-Cine Torres Vedras e Teatro Municipal do Porto
Residências de criação/apresentação Gretua (Aveiro), Festival END (Coimbra), Rua das Gaivotas 6 (Lisboa), A Gráfica (Setúbal)
Apoio à residência Pólo Cultural das Gaivotas, O Rumo do Fumo e Centro Cultural da Malaposta/Minutos Redondos, LAMA Teatro, OPART e Estúdios Victor Córdon.
Financiado por República Portuguesa/ Dgartes – Direção Geral das Artes
Apresentação do resultado final das Oficinas de Dramaturgia e criação
Festival END — Encontros de Novas Dramaturgias