relação entre pele e as camadas têxteis postas ou impostas sobre ela e, assim, a criação reflete inevitavelmente sobre relações entre o vestuário e a cultura
Sob a tentativa de elaborar uma solução estética capaz de harmonizar 12 singularidades distintas em um convívio que pudesse ser uma analogia sobre o viver em uma democracia, considerando repertórios culturais e desejos dissemelhantes, surge Amálgama, um espetáculo que tem como assunto central o corpo como um estado provisório de uma complexa coleção de informações do contexto que ele está inserido, a subversão da identidade e as suas inerentes subjetivações. E, assim, a partir do conhecimento de que sujeito não é algo preexistente e que, portanto, está em constante processo e sempre constituído no discurso pelos atos que ele executa, esta criação afirma-se como um encontro emancipatório em que o conceito de género não pode ser restrito às exigências da cisheteronorma que, compulsoriamente, impõe um limitado par masculino/feminino.
Em movimento de negação de categorias universalizantes, em meio a um emaranhado de trajes e acessórios já usados em situações anteriores e, agora, reciclados para este contexto, muitas identidades instáveis são erigidas, revelando sujeitos voláteis como construtos performativos, sustentando a identidade de gênero como uma sequência de atos.
Os vínculos formados entre as únicas matérias utilizadas em ação e as enormes diferenças existentes entre cada performer sublinham a ideia de que nós não podemos viver sem um outro sujeito e, com isso, Amálgama traz à tona a noção de interdependência social e ecológica também.
Esta encenação apresenta referenciais basilares da pesquisa de Tales Frey na relação entre pele e as camadas têxteis postas ou impostas sobre ela e, assim, a criação reflete inevitavelmente sobre relações entre o vestuário e a cultura. Para além de trabalhos mais notórios da carreira do artista como Ponto Comum (2017), O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo (2018), Tapete Vermelho (2019) e Fio Condutor (2020), algumas referências mais diretas são explicitadas, como é o caso da obra Túnel (1970), de Lygia Clark, a qual possibilita que uma espécie de rito de passagem aconteça em um espaço de prováveis fronteiras entre audiência e performers, fazendo valer uma vivência sensorial e coletiva. Outras obras citadas são: Untitled (Double) (2002), de Erwin Wurm e os Parangolés (1964-1979) de Hélio Oiticica.
A MTU Mostra de Teatro Universitário pretende dar a conhecer as criações que os grupos universitários desenvolvem a cada ano letivo, incluindo grupos universitários nacionais e internacionais, num diálogo crítico e histórico que a Academia de Coimbra mantém desde há muito com o Teatro. Realizada desde 2012, em organização conjunta entre o Teatro Académico de Gil Vicente, CITAC, GEFAC, TEUC e Thíasos, a MTU propõe-se dar palco às mais recentes experiências cénicas e dramatúrgicas desenvolvidas no âmbito da academia. Cada edição constitui um momento de partilha e formação, apresentando ao público um conjunto de projetos que ilustram os caminhos de criação em contexto universitário.
Data
26, Maio 2023
Horário
21H30
Duração
1h00
Faixa etária
M12
Preço
€2
Local auditório TAGV
encenação Tales Frey
performers Ana Marques Nogueira, António Nesil, Arduim, Bruna Marques, Clara Eloy França, Duarte da Silva, Júlia Zuccon, Maria Antónia Torres, Sandra Amado, Sophie Schewe, Verônica Bertolini, Veronica Zanon
coprodução MTU Teatro Académico de Gil Vicente, CITAC, GEFAC, TEUC, Thíasos
espetáculo integrado ciclo Teatro e Artes Performativas – MIMESIS da Universidade de Coimbra