uma das histórias mais conhecidas da tradição da Península Ibérica
A partir da obra “Nise Lastimosa” e “Nise Laureada” de Jerónimo Bermúdez, Ana Zamora e o premiado coletivo Nao d’amores constroem uma dramaturgia que permite ao espectador revisitar uma das histórias mais conhecidas da tradição da Península Ibérica, especialmente relacionada com a história e mitologia da cidade de Coimbra.
Fortes pressões políticas levam o rei D. Alonso de Portugal – o histórico rei D. Afonso – a decretar a execução de Inês de Castro, casada secretamente com o seu filho, o infante D. Pedro. Três cortesãos perpetram o assassinato legal. D. Pedro, quando toma conhecimento da notícia, acaba por perder temporariamente o juízo e, assim que o recupera, declara guerra ao pai. Os assassinos fogem para Castela. Morto o rei D. Alonso, D. Pedro sobe ao trono de Portugal. Proclamado rei em Coimbra, desenterra o cadáver de Inês, casa publicamente com ela e cinge-lhe a coroa real. A extradição dos antigos assassinos, entregues pelo rei de Castela ao seu homónimo português, faz com que dois dos responsáveis diretos pela morte de Inês sejam julgados aos olhos do espectador.
Os mares do teatro pré-barroco afiguram-se-nos inabarcáveis repetidas vezes, e seria necessária uma autêntica frota de Naos d’amores para podermos abordar a totalidade das apaixonantes rotas que ainda nos falta navegar. Neste caso, vamos à descoberta de um espaço insuspeito, o da tragédia renascentista, integrado pelos humanistas do século XVI (Bermúdez, Virués, Cueva, Argensola), que pretenderam criar, na língua castelhana, um teatro baseado nos princípios e modelos do mundo antigo. Apaixonante desafio este de penetrarmos no âmbito de uma dramaturgia eminentemente universitária, de pendor senequista, que luta por chamar a si a simplicidade da tragédia antiga e a sua preceptiva aristotélica.
Novas fórmulas métricas, como o hendecassílabo solto, combinado em estrofes sáfico-adónicas quando se consolida o aparecimento do coro, afiguram-se-nos já espaços de imprescindível estudo, na nossa obsessão por entender, a partir da prática cénica, as formas que sustentam o passado e presente do nosso teatro clássico entendido em toda a sua magnitude.
Não é, porém, apenas o seu exercício formal que nos interessa, mas sim a grande preocupação temática sobre a qual constroem as suas tragédias: o problema do exercício do poder.
O príncipe como encarnação do bem, justificado pela ideia do vicarius Christi, constitui o modelo de conduta que se propõe ao povo, mas, neste período, surge outra via que assenta nas ideias políticas de Maquiavel, rompendo com esta tradição ético-cristã. Este novo modelo traz à tona toda uma série de contradições que nos levam a questionar a ideia do soberano reverenciado, cujas ações estão forçosamente marcadas pela justiça e pela equidade, em oposição à figura do tirano. Jerónimo Bermúdez, com esta perspetiva, oferece-nos a suculenta possibilidade de investigarmos as ligações políticas com a nossa contemporaneidade.
A partir das suas duas únicas peças teatrais, Nise Lastimosa e Nise Laureada, construímos uma dramaturgia unitária, que nos permite aprofundar esta visão do mau governo, através de uma das histórias mais conhecidas da tradição hispano-lusa: a lenda de Inês de Castro. Mais uma vez, esta natureza trágica, a de uma história de inevitável e terrível desenlace que todos conhecem, mas que se revive como nova sobre as tábuas, repetidas vezes. E, como pano de fundo, a identificação de um público que não centra a sua atenção na intriga, mas sim nas diversas maneiras de voltar a transitar pelo que já se sente como próprio. Ana Zamora
Data
21, Outubro 2021
22, Outubro 2021
Horário
21H30
21H30
Duração
1h15
Faixa etária
M12
Preço
€5
€3,5 < 25, estudante, > 65, comunidade UC, rede alumni UC, grupo ≥ 10, desempregado, profissional do espetáculo, parcerias
Bilheteira TAGV 1 hora antes dos espetáculos e 30 minutos antes das sessões de cinema. Encerra 30 minutos após o seu início
Local auditório TAGV
dramaturgia e direção Ana Zamora
interpretação José Luis Alcobendas, Javier Carramiñana/Marcos Toro, Alba Fresno, José Hernández Pastor, Natalia Huarte/Irene Serrano, Eduardo Mayo, Alejandro Saá/Ernesto Arias, Isabel Zamora
direção musical Alicia Lázaro
cenografia Ricardo Vergne
desenho de luz M. A. Camacho
coreografia Javier García Ávila
direção técnica Fernando Herranz
produção executiva Germán H. Solís
espetáculo falado em espanhol, com legendagem para facilitar compreensão
Mostra Espanha Acción Cultural Española (AC/E), Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo (AECID), Embaixada de Espanha em Portugal, Ministerio de Cultura y Deporte de España, República Portuguesa – Cultura
Mostra Espanha é um programa de atividades culturais que se desenvolve em distintas cidades de Portugal e tem como finalidade principal mostrar o dinamismo e a criatividade das industrias culturais espanholas no momento atual
23 de outubro Teatro Municipal de Bragança