um retrato cheio de nuances que evita os julgamentos morais, transformando esta biopic numa viagem apaixonada através da história, traçando paralelos intrigantes com os dias de hoje
Inspirado em personagens históricas, O Pior Homem de Londres é um notável retrato do mundo dos pré-rafaelitas, na era vitoriana. Grandes artistas, como Dante Gabriel Rossetti, Algernon Charles Swinburne e Elizabeth Siddal, que viveram e criaram uma atmosfera de liberdade, vício e amoralidade, e o famoso crítico John Ruskin. Entre eles, Charles Augustus Howell, o pior homem de Londres.
De há muito que admiro a arte dos Pré-Rafaelitas. De Dante Gabriel Rossetti a William Holman Hunt, a Millais e Burne-Jones, todos me fascinaram enquanto artistas, mas muito mais me fascina a sua organização enquanto “irmandade”. A insistência em criarem um movimento de reforma, mesmo que não vanguardista, defendendo a arte pela arte ainda no século XIX, a partir da apropriação do passado, é algo de que muito gosto e, de certa forma, uma recorrência no meu cinema. Revejo-me no princípio da apropriação de géneros ou estilos de um outro tempo transpostos para os dias de hoje.
Enquanto realizador a intenção de me apropriar de um estilo da pintura para a fotografia do filme é fundamental. Aqui, não poderia deixar de procurar usar como palete de tons e cores a mesma que Millais e Burne-Jones usaram para pintar a natureza, a que Rossetti usava para os rostos, o dourado contraste com o flamejante cabelo de Lizzie.
Quando Jorge Luis Borges, nos seus textos críticos de cinema, compara Citizen Kane aos Pré-Rafaelitas evidencia não só a natureza dos enquadramentos como principalmente a revolução do ponto de vista da utilização do foco. Eu vejo o filme um pouco mais narcótico, do ponto de vista da acção, e do contraste dos interiores híper-decorados e escuros com os exteriores luminosos onde imperam jardins e a natureza que os Pré-Rafaelitas souberam tão bem retratar. É, no entanto, um filme de rostos marcados pela dureza da época, da vida, do láudano, e da debilidade da vida dos artistas de outrora, como de hoje. E Howell é fundamental para penetrar na carapaça vitoriana de “bons costumes” de uma Londres ensimesmada. Como foi capaz de influenciar tantos episódios cruciais de uma época que decidiu omiti-lo ou torná-lo num vilão? — Rodrigo Areias
Rodrigo Areias, realizador e produtor, iniciou a vida profissional como músico e produtor musical na label Garagem, e no cinema como Sound Designer de realizadores como Paulo Rocha e Edgar Pêra. No início da carreira, desenvolveu trabalhos criativos em ficção e documentário, videoarte e videoclips para algumas das melhores bandas do panorama rock português (The Legendary Tiger Man, Wray Gunn, Mão Morta, Sean Riley and the Slow Riders, entre outros. Rodrigo Areias realizou oito longas-metragens e várias curtas, premiadas em mais de 40 festivais, incluindo Karlovy Vary, com a sua longa-metragem Estrada de Palha. O seu último documentário, Hálito Azul, estreou-se em Locarno no FF First Look e venceu os Festivais de Ismailia, Pristina e Kalajoki. Desde 2001 já produziu e co-produziu mais de 150 curtas e longas-metragens: ficção, documentário e animação, de realizadores internacionais como FJ Ossang, Gabe Klinger, Teddy Williams, Lois Patiño e Matias Piñeiro, e dos portugueses Edgar Pêra, João Canijo, Ana Rocha de Sousa e André Gil Mata. Como produtor ganhou um Leão de Ouro em Veneza e um Leopardo de Ouro em Locarno. As suas produções estrearam-se nos mais importantes festivais internacionais de cinema: Cannes, Berlim, Veneza, Roterdão, Locarno, Clermont Ferrand, e Annecy. Foi responsável pela produção cinematográfica de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 e produziu filmes de Jean-Luc Godard, Aki Kaurismaki, Peter Greenaway, Manoel de Oliveira, Pedro Costa e Victor Erice, entre muitos outros. O Pior Homem de Londres é a última longa-metragem de ficção, selecionada para o International Film Festival Rotterdam 2024, Big Screen Competition.
Data
19, Fevereiro 2024
Horário
21H00
Duração
2h10
Faixa etária
a classificar
Preço
€5
€3,5
< 25 anos, estudante, comunidade uc, rede alumni uc, > 65 anos, grupo ≥ 10, desempregado, profissional da cultura, parceria TAGV
Os bilhetes com desconto são pessoais e intransmissíveis e obrigam à identificação na entrada quando solicitada. Os descontos não são acumuláveis
Local auditório TAGV
Com Albano Jerónimo, Edward Ashley, Victoria Guerra
Origem Portugal, 2023
IFFR Festival Internacional de Cinema de Roterdão
Big Screen Competition
Conversa pós-filme com Rodrigo Areias (realizador), Eduardo Brito (argumento)