José Mário Branco fala-nos de uma pátria moratória despida da grandiosidade épica com que um certo afã nacionalista a foi imaginando. A dado momento, convida-nos a olhar a história com o olhar dos outros
Em Canto dos Torna Viagem, magnífico tema que dá o mote a este ciclo, José Mário Branco fala-nos de uma “pátria moratória” despida da grandiosidade épica com que um certo afã nacionalista a foi imaginando. A dado momento, convida-nos a olhar a história com o olhar “dos outros”: aqueles que não têm culpa “se quem p’ra cá veio / Não se incomodou ao saber do horror”. Este debate pretende seguir nesse trilho de questionamento dos passados coloniais e dos seus legados. Tomaremos como ponto de partida o modo como em Portugal se tecem essas seletividades eloquentes que tendem a glorificar a gesta das Descobertas e o impulso ecuménico que teria gerado encontros de culturas e frutíferas miscigenações, esquecendo a realidade concreta do colonialismo enquanto ordem intrinsecamente produtora de hierarquias, desigualdades e opressões.
Debate integrado no programa Afro-Portugal: Contas de Torna-Viagem. A canção Canto dos Torna-Viagem, de José Mário Branco, interpela as grandes narrativas coloniais que ainda sustentam a identidade nacional portuguesa, a partir do símbolo da viagem de descoberta. A provocação é forte e incisiva no sentido de fazer as contas de uma “Pátria Moratória”que foi deixando “Desperdícios coloniais” entre os seus, e onde chegou e dominou. É preciso, pois, inverter a perspetiva sobre a história e tentar “ver a coisa/do ponto de vista de quem não chegou”, de quem já estava nas colónias, dos que já cá estão, ou de cá são, sem que a “Pátria imaginária” os reconheça, na sua “consistência vária”. Este amplo programa insere-se, assim, nos debates atuais sobre memória colonial, o racismo, e coloca em destaque as vozes artísticas negras, africanas e afrodescendentes em Portugal, de várias gerações. Inclui performances, exposições, filmes, debates, literatura, música, workshops e ações socioeducativas, culminando na peça Aurora Negra.
Data
19, Outubro 2022
Horário
18H00
Duração
1h00
Faixa etária
para todos os públicos
Preço
entrada gratuita
Local Café TAGV
com a participação de Miguel Cardina, Bruno Sena Martins, Jorgette Dumby
co-organização projeto CROME Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times (StG-ERC-715593), Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
programa Afro-Portugal: Contas de Torna-Viagem
curadoria Catarina Martins (FLUC/CES)
coprodução Teatro Académico de Gil Vicente, A Escola da Noite
parceria Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), Casa da Esquina, Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Doutoramento em Estudos Feministas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Projeto CROME (CES)