o debate sobre os sentimentos públicos dominantes num tempo de cicatrizes pandémicas com uma guerra na Europa em pano de fundo
Sentimentos públicos são atmosferas afetivas que moldam a nossa experiência íntima sem que tenhamos consciência do seu impacto sobre nós. São forças invisíveis que condicionam modos de pensar, agir e sentir, na medida em que influenciam os nossos vínculos afetivos com o mundo definindo desejos, escolhas e comportamentos.
Por muitos considerado como uma para-pandemia, o medo foi o sentimento público mais intensificado aquando do choque mundial da pandemia covid19. Não terá sido o único, mas foi o mais marcante: o medo do desconhecido, ou seja, o medo da morte criou uma atmosfera afetiva que dominou mentes e corações. As formas de solidariedade e colaboração que surgiram de modo espontâneo na sociedade civil constituíram uma reação-antídoto, embora circulando mais timidamente no espaço público.
Como se constroem as atmosferas afetivas? De que modo condicionam as nossas mentes e comportamentos? Como mobilizam os nossos corpos? E de que modo podem as artes, em particular as artes performativas que criam mundos sensoriais e afetivos em cena, contribuir para um entendimento claro e uma maior consciência das suas forças invisíveis?
Este ciclo promove o debate sobre os sentimentos públicos dominantes num tempo de cicatrizes pandémicas com uma guerra na Europa em pano de fundo. Tem por objetivo contribuir para uma maior consciência coletiva dos condicionamentos de que somos alvo bem como para o empoderamento ético de cada um, propiciando ambientes mentais e emocionais saudáveis. Para isso, será fundamental imaginar outros mundos de afetos em conjunto com artistas e público.
Ana Pais é investigadora em artes performativas (Centro Estudos de Teatro, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), dramaturgista e curadora. É autora do livro “O Discurso da Cumplicidade. Dramaturgias Contemporâneas” (Colibri 2004) e de “Ritmos Afectivos nas Artes Performativas” (Colibri 2018). Organizou ainda a antologia “Performance na Esfera Pública” (2017, Orfeu Negro) e a sua versão em inglês disponível para download gratuito em www.performativa.pt. Foi crítica de teatro no Público (2003) e no Expresso (2004). Como dramaturgista, colaborou com criadores de teatro e dança em Portugal (João Brites, Tiago Rodrigues, Sara de Castro, Rui Horta e Miguel Pereira) e, como curadora, concebeu, coordenou e produziu vários eventos de curadoria discursiva, dos quais destaca o “Projecto P! Performance na Esfera Pública” (Lisboa, 10-14 Abril 2017) e “Em Fluxo: sentimentos públicos e práticas de reconhecimento” (Lisboa, 3-5 Abril 2019) www.performativa.pt.
teatro
4, 6, 9 e 10 junho 21h00, 22h00, 23h00
Um Artista da Fome. Peça Para Chamada de Voz
De Visões Úteis
Uma resposta simultânea ao confinamento decretado pela pandemia e ao apelo do Between the Seas: Mediterranean Performance Lab e do Espaço 1927, em Atenas, para o desenvolvimento de ações low-tech de ligação com os públicos e iniciativas de solidariedade.
acesso Um Artista da Fome. Peça Para Chamada de Voz
conferência
ter 7 junho 16h30
Depois da Fúria – Da Terna Masculinidade e Atmosferas de Incerteza
Conferência com Martin Welton (UK)
No auge da pandemia de covid19 em 2020 e 2021, o Reino Unido foi sujeito a uma série de restrições e confinamentos. O período foi marcado por dois surtos de revolta e protestos públicos não relacionados com a própria pandemia. O primeiro foi uma resposta ao Global do movimento Black Lives Matter ao assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, em que se assistiu a protestos contra a violência racial no Reino Unido. O segundo, após a violação e assassinato de uma jovem, Sarah Everard, por um agente da polícia, gerou protestos contra violência e opressão contra as mulheres. Além de envolver demonstrações inusitadas de sentimentos públicos num contexto britânico, e num momento de grande incerteza social, ambos desencadearam uma série de discussões amargas em torno de questões raciais e de género em relação à violência e ao poder.
Nesse contexto, falamos de três performances que surgiram desde o levantamento das restrições à covid19 – “Samskara” de Lanre Malalou, “White Sun” de Will Dickie e “Traplord” de Ivan Michael Blackstock.
Martin Welton centra a sua investigação no movimento e nos sentidos na estética da performance contemporânea. Coeditor do próximo Routledge Handbook of Ambiance and Atmospheres. Além dos trabalhos publicados, investiga a estética sensorial na prática, em colaboração com artistas profissionais fora da academia, incluindo VOID, uma instalação ambisónica com o teatro RIFT em 2018.
local Anfiteatro 3 FLUC
duração aprox. 2h00
entrada livre
+ info e inscrição producao@tagv.uc.pt
literatura
qua 8 junho 18h30
Quem Tem Medo das Emoções?
Apresentação do livro de Ana Pais
Um pretexto para uma conversa sobre o modo como os sentimentos públicos que circulam no espaço público e nos atingem na nossa esfera privada.
convidado/a João Oliveira (ator do espetáculo telefónico “O Artista da Fome”, Visões Úteis, 2021), João Maria André (Universidade de Coimbra) e Maria José Canelo (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra)
local foyer principal TAGV
entrada livre
oficina
qua 8 e qui 9 junho 15h00
Imaginar Outros Mundos de Afetos
Oficina com Ana Pais, Carlos Costa e Inês de Carvalho
Muitas vezes, as artes performativas convocam os sentimentos públicos mais agudos num determinado momento e lugar, tornando visíveis o impacto das suas forças. Ao criarem atmosferas afetivas nas quais o público participa, os artistas respondem, dramatizam ou desafiam esses sentimentos. Nesta oficina, oferecida por Ana Pais e as Visões Úteis, procura-se criar um espaço de partilha e reflexão sobre os afetos colocados em circulação durante a pandemia em discursos políticos, mediático, económicos e culturais, trazendo para a discussão teorias contemporâneas sobre os afetos públicos. Abordaremos ainda práticas e estratégias artísticas que nos permitiram fazer circular outros afetos, estar em contacto à distância e imaginar outros mundos.
local Centro de Documentação TAGV
duração aprox. 3h00
público em geral e estudantes
máx. 15 participantes/público geral e estudantes
inscrição gratuita
+ info e inscrições producao@tagv.uc.pt
oficina/apresentação pública
qui 9 junho 18h00
Imaginar Outros Mundos de Afetos
Apresentação pública do resultado da Oficina
Formato de conversa informal segundo o modelo “Long Table” de Lois Weaver http://www.split-britches.com/long-table, que prevê uma mesa à volta da qual todos os presentes se podem sentar, à vez e usar da palavra ao microfone.
local Café TAGV
dança
qui 9 junho 21h30
The Anger! The Fury!
De Sónia Baptista
Partimos da pesquisa e reflexão sobre textos clássicos, textos filosóficos contemporâneos, expressões de cultura popular, ensaios sobre sociedade e género, sobre ecofeminismo, sobre o desejo de uma vivência punk que desafia o status quo. Uma vivência hopepunk, com essa mistura radical de otimismo alimentado pela raiva de querer mudar o status quo. “A Gentileza é Punk. A Compaixão é Radical. O Apreço é Subversivo.”
local auditório TAGV
Data
07, Junho 2022
08, Junho 2022
08 - 09, Junho 2022
09, Junho 2022
09, Junho 2022
Horário
16H30
18H30
15H00
18H00
21H30
Duração
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Faixa etária
—
Preço
—
ciclo Sentimentos Públicos
curadoria Ana Pais
ciclo integrado no Laboratório LIPA
ilustração Levina Valentim