Primeiro filme francês de Joseph Losey e uma das suas obras maiores, “Mr. Klein” é, segundo o realizador, “uma fábula em forma de aviso”. Klein (Alain Delon, num dos seus melhores papéis) é um negociante de arte oportunista, que se aproveita da Ocupação comprando ao desbarato peças preciosas aos judeus em fuga, até ao momento em que a sua própria identidade é posta em causa, quando é confrontado com a existência de um “outro” Robert Klein, um judeu procurado pela polícia. Neste filme, que é também uma análise do estado policial e uma viagem pelos labirintos da culpa individual e coletiva, que pôs o dedo na ferida sobre o que se passou em França durante a Ocupação, Mr. Klein é um “Sr. Quase-Toda-a-Gente”, que não quer ver, que não quer compreender, aquele que tornou possíveis e as grandes atrocidades do século XX.

Joseph Walton Losey III (1909 – 1984) foi um encenador e realizador norte-americano, nascido no Wisconsin. No início da sua carreira, trabalhou de perto com Bertolt Brecht durante os anos em que se dedicou ao teatro e, antes de apresentar a sua primeira longa, realizou algumas curtas-metragens para a MGM. Joseph Losey foi um cineasta inventivo capaz de surpreender a cada filme. A sua obra, pautada por uma forte consciência política e repleta de “imagens provocatórias”, ilustra uma mestria formal e “estética revolucionária”, chegou a ser apelidada de “puro cinema” pela crítica, tornando Losey num cineasta de culto.
Os seus mais fascinantes filmes são aqueles que resultam da desesperante necessidade de dar forma à sua visão no grande ecrã; o seu exílio da América na Inglaterra moldou essa visão, forçando Losey a identificar-se ainda mais com os outsiders que retratara ao longo da sua filmografia de sucesso. Joseph Losey é uma das grandes figuras da História do Cinema, recuperado agora num ciclo de filmes em cópia digitais restauradas.